sábado, fevereiro 19, 2005

Vasco Pulido (sempre) Valente

"Sócrates terá a maioria, a até absoluta, mas não tem "presença" (a qualidade que faz que entre cinco pessoas se olhe para uma), não tem boa voz (o timbre irrita e raspa), não fala com fluência e parece, como deve ser, interminavelmente ensaiado. Santana Lopes tem "presença" e boa voz. Infelizmente para ele, não tem uma grande "presença" e uma grande voz: lembra uma certa espécie de actores que morrem sempre antes do intervalo. De resto, Santana fala aos solavancos, muda de assunto, repete, baralha, confunde, como se na cabeça dele andasse à procura de um alfinete num quarto escuro. Portas representa o homem de Estado. Aparentemente ninguém o avisou de que não existe em televisão coisa pior do que representar e, ainda por cima, representar mal. Um actor consumado (Soares, por exemplo) talvez se conseguisse safar, Portas não consegue e, por isso, não lhe vale de nada a "presença" (mediana), a voz (razoável) e a lógica (perfeita). Louçã, esse, pertence a uma categoria especial, não se explica, nasceu infelizmente com aquilo que se chama "star quality". Uma presença dominante, uma voz melíflua, um fervor à superfície genuíno acabam por tornar a anormalidade normal, a irresponsabilidade responsável, a loucura sensata. E falta Jerónimo de Sousa com uma óptima "presença", uma voz simpática (quando não a perdeu), uma conversa pueril e a receita mágica da inocência e da candura. Se a televisão favoreceu alguém, favoreceu Louçã, Jerónimo e ligeiramente Santana. E, se prejudicou alguém, prejudicou Portas, primeiro e, depois, Sócrates. Domingo, vamos ver."

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